A edição deste mês fez nossa homenageada inverter os papéis: sempre com um bloco e caneta na mão ou gravador, a jornalista Ânia Chala passou a entrevistada, e nos conta um pouco de sua intensa trajetória profissional.
Jornalista graduada pela Fabico/UFRGS em 1985, ela ingressou como bolsista da antiga Assessoria de Imprensa, em novembro de 1982, onde ficou por quase dois anos. Já como técnica, viu a carreira engrenar logo depois, em setembro de 1984, quando surgiu uma oportunidade de contratação via CLT. Ficou alguns meses no gabinete do reitor, até ir para a Pró-Reitoria de Extensão, onde vivenciou por duas décadas um ambiente de grande efervescência cultural e projetos como o Unimúsica. Na equipe, coordenada pelo professor Flávio Loureiro Chaves, fez amigas com quem convive até hoje.
“Criei uma rede com gente para quem não bastava produzir conhecimento: era preciso compartilhar para muito além do ambiente acadêmico. Foram anos fantásticos”, recorda.
A profissional conta ter feito de tudo um pouco no período: boletim, revista, programa na Rádio da Universidade, assessoria de imprensa para eventos, um jornal impresso e, por fim, um boletim digital semanal, o Agendão da Extensão.
“Vivíamos o final da ditadura civil-militar, um tempo de muitas mobilizações. Como aquele regime caiu de podre, a cada mês os movimentos iam ganhando força porque, apesar da sombra da repressão, muita gente ousava botar o dedo nas feridas e apontar os autoritarismos existentes. Ainda assim, percebo que deixávamos passar muita coisa, que hoje não ficaria sem reposta. Um exemplo: o machismo entranhado na academia. Situações de discriminação e até de assédio eram comuns, mas inexistiam canais para denunciar e, por vezes, faltava identificar ‘o é da coisa’. Mas, as fichas foram caindo, os grupos se organizando, e muita coisa mudou para melhor”, pondera.
Depois da Extensão, retornou à Assessoria de Imprensa, na gestão de José Carlos Hennemann, que estruturou a Secretaria de Comunicação e queria um Agendão da UFRGS. Mas, quando chegou à Secom, foi convidada a assumir a editoria do Jornal da Universidade, que passava por uma total reformulação. A ideia era investir em um periódico impresso internamente. Com isso, a Gráfica foi reequipada. Ânia foi editora do JU de 2005 a 2016.
“No fim, acho que a UFRGS saiu ganhando, porque a compra de equipamento, o treinamento de pessoal e o processo de organizar a distribuição interna e externa trouxeram outra dinâmica. Era trabalhoso, por vezes, enlouquecedor, mas sempre compensava”, acredita.
Quando se aproximava a época de preparar a Qualificação para o doutorado (leia mais abaixo), teve de se afastar do cargo de chefia. Após um ano, retornou ao JU, desta vez como repórter. “Foi a melhor coisa! Ser jornalista, sem as cobranças e os perrengues da edição, que também tem seu lado bom, é maravilhoso”, comenta.
Ela avalia que as edições online tornadas imprescindíveis durante a pandemia, acabaram criando outras formas de interação entre quem produz e quem lê os conteúdos do JU. E Ânia se sente feliz por acompanhar essa transformação.
Atualmente, integra a equipe da Assessoria de Imprensa da Secom, junto com outros cinco colegas jornalistas e mais dois fotógrafos. Além de produzir matérias para o site da UFRGS, há toda a parte de redes sociais, nas quais sempre surgem novidades.
Ávida por conhecimento, Ânia não parou de investir em sua formação. Foi aluna da primeira turma do Curso de Especialização em Gestão Universitária, uma proposta da gestão da professora Wrana Panizzi, na qual, diz, teve ótimas experiências com colegas dos mais diferentes setores. “O curso teve poucas edições e não existe mais, mas valeu pela parceria e pelas amizades que ajudou a consolidar”.
Em 1996, entrou na segunda turma do mestrado em Comunicação e Informação do PPGCOM da Fabico. Em 2015, decidiu cursar um doutorado interdisciplinar. Por recomendação de colegas que já haviam feito o mestrado, e também incentivada pela professora Zilá Bernd, com quem havia cursado Francês Instrumental na graduação, participou da seleção para o doutorado em Memória Social e Bens Culturais pela Universidade La Salle. Foi sua única experiência em uma instituição privada de ensino.
“Foram quatro anos de muitas descobertas de autores incríveis, de novas amizades que mantenho até hoje e de muita troca de experiências”, relata.
Ela já poderia ter se aposentado, em dezembro de 2015. “Ainda não bateu aquela vontade de deixar a UFRGS, mas um dia ela virá… Até lá, pretendo seguir trabalhando e fazendo novas amizades por aqui”.
Ao ser questionada sobre de que forma acredita que vem contribuindo para deixar sua marca na UFRGS, responde: “Não gosto muito de pensar em termos de marca, porque isso me remete a uma espécie de legado – coisa que muito poucos irão de fato deixar para as futuras gerações. Só quero é que a instituição permaneça maior do que a soma das pessoas que a compõe. Com isso, não quero dizer que a gente é desimportante. Penso apenas que, se alguma marca se pode desejar deixar, terá de ser soma dos afetos que criamos: seja pelo trabalho bem realizado, pelas discussões das quais participei e dos projetos que ajudei a divulgar. O que ainda quero fazer? Antes de me aposentar, espero que o meu voto, e o de todos os alunos desta grande universidade, possa ter o mesmo valor. Só assim teremos, de fato, um ambiente democrático e livre para o diálogo e o crescimento de novas ideias, projetos e soluções.”
Anahi Fros | Comunicação ATENS UFRGS